É amor ou sobreprotecção?

é amor ou sobreprotecção 300x240.jpgDescubra por que a maioria dos pais, na ânsia de proteger os seus filhos, educa jovens ansiosos, dependentes e sem iniciativa


«Queremos filhos com auto-confiança, corajosos, exploradores, autónomos, com vontade de aprender e que deem valor à vida? Ou queremos filhos ansiosos, com medo de errar, sem iniciativa, que procurem soluções cómodas e seguras acima de tudo» pergunta Jaume Soler, psicólogo espanhol, no livro «Amar é Deixar Viver».

Apesar da resposta parecer muito óbvia, a verdade é que nem sempre o é, o que leva o fundador e diretor da Fundació ÀMBIT (Instituto para o Crescimento Pessoal de Barcelona) a questionar «porque é que tantos pais estão a educar os filhos precisamente no sentido contrário?»

Principais falhas

Na opinião de Jaume Soler, os principais erros que os pais cometem na educação dos filhos relacionam-se com o grau de atenção dado às crianças. «É fundamental que uma criança se sinta querida para desenvolver a sua autoestima. No entanto, não se deve confundir amor com sobreprotecção. Um indivíduo sobreprotegido vive numa realidade simplificada ficticiamente, em que não existem problemas, nem sofrimento.

Mas também não existe a satisfação de ter metas e superar-se para as atingir». No outro extremo está a negligência, o abandono das funções como pais. «Ambas as condutas podem ser consideradas formas de maus-tratos infantis, uma vez que os adultos se demitem da sua função de educar», frisa. Para o psicólogo, a negligência, entendida inicialmente como liberdade, pode conduzir a um «vazio afetivo e a condutas violentas ou de auto-destruição».

Educar é construir

Para o psicólogo, a principal tarefa dos pais é a própria construção pessoal. «Temos a responsabilidade de melhorarmos, sermos coerentes e agir de acordo com os valores que escolhemos». Um comportamento inverso, ou seja, «centrar-se apenas no filho, viver dele e para ele pode resultar num caminho difícil e com poucas possibilidades de êxito».

Apesar de todos os pais desejarem filhos com iniciativa, que sejam capazes de superar as dificuldades, desejá-lo não é suficiente. «É necessário lutar por isso com afinco e diariamente. Ter um filho não nos transforma automaticamente em pais, tal como ter um piano não faz de nós pianistas», diz.
 
Ter vida própria«Quem não foi capaz de dar um sentido à sua vida, poderá tentá-lo através das vitórias dos filhos. É humano, mas será justo?» pergunta o psicólogo que defende que a tarefa de ser pai ou mãe não deve ser o único papel da vida de um adulto. «Os pais devem ter uma vida de casal, cultural, de trabalho, com os seus amigos e partilhar esta qualidade de vida com os filhos, que desta forma descobrem que a vida é uma aventura interessante».

Jaume Soler defende o modelo CAPA, com base nos pressupostos da Ecologia Emocional: uma pessoa Criativa, Amorosa, Pacífica e Autónoma.

«Se formos capazes de educar com base nestes C, as crianças vão tornar-se adultos saudáveis, equilibrados e com um elevado nível de bem-estar emocional», sublinha o especialista.

Texto: Sónia Ramalho com Jaume Soler (psicólogo)

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